Pesquisa e Inovação

‘Narrativas em rede’: pesquisa analisa variações linguísticas do Jequitinhonha

Dissertação de mestrado e recurso educacional desenvolvidos no Promestre, da FaE, são tema do 200º episódio do ‘Aqui tem ciência’, da Rádio UFMG Educativa

Paisagem em Rubim, no Vale do Jequitinhonha
Vista de Rubim, no Vale do Jequitinhonha Foto: Deborahdutra | Wikimedia Commons (CC BY-SA 3.0)

Narrativas orais gravadas ao longo de uma década (de 1987 a 1997) no Vale do Jequitinhonha estão disponíveis para acesso público no site do projeto Polo Jequitinhonha UFMG. As gravações, que estavam armazenadas em fitas K7, foram capturadas e convertidas para o formato MP3. Juntamente com as transcrições dos áudios, o material integra o recurso educacional Narrativas em rede, desenvolvido pelo pesquisador Cleomar Poletto no Programa de Mestrado Profissional em Educação e Docência da Faculdade de Educação (Promestre/FaE). 

O autor explica que seu trabalho também abrange a análise do material. “Eu percebi que existia algum diferencial na língua que merecia ser pesquisado. Então, conjugando o objetivo de salvaguardar essas narrativas e de fazer uma dissertação, eu procurei a inserção no Promestre, atendendo também ao propósito de criar um produto educacional”, conta.

As narrativas analisadas na dissertação de mestrado foram gravadas nas décadas de 1980 e 1990 pelas equipes de dois projetos de pesquisa: Literatura oral e Quem conta um conto aumenta um ponto. A equipe deste último também foi responsável pelas transcrições de 200 dos 255 contos que constituem as Narrativas em rede, com o cuidado de preservar as marcas da oralidade nos textos. “Eles conseguem, brilhantemente, materializar na escrita uma língua que é falada”, destaca o pesquisador.

Poletto ressalta a importância do recurso educacional para difundir a diversidade da língua nas escolas. “As variedades linguísticas são tratadas com estigma, com  preconceito, até mesmo na escola. Falar outra variedade é um problema, o professor corrige. Então, o corpus da pesquisa e a dissertação apontam que todas as variedades da língua são importantes", afirma.

Histórias do Vale
As gravações foram realizadas em 10 municípios da região: Araçuaí, Capelinha, Chapada do Norte, Diamantina, Itamarandiba, Jenipapo de Minas, Malacacheta, Minas Novas, Rubim, Serro e Turmalina. Segundo Poletto, o acervo, que reúne aproximadamente 168 mil palavras, ajuda a resgatar a memória da região.

“As narrativas contam a história do Vale, daquele povo. A massa de tropas que saía de Diamantina e seguia até Teófilo Otoni, por exemplo. Elas falam da chegada de outros meios de locomoção, como o carro, e dos homens que vão abrindo as estradas no Vale”, revela Poletto, que também dedicou um capítulo às histórias das pessoas que narram os contos registrados.

O trabalho foi orientado pela professora Maria Gorete Neto, do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino da FaE. Saiba mais sobre o estudo no 200º episódio do Aqui tem ciência:

Poletto: objetivo era salvaguardar as narrativas
Poletto: um dos objetivos era salvaguardar as narrativas Foto: Alessandra Ribeiro | Rádio UFMG Educativa

Raio-x da pesquisa

Título: Variação linguística em narrativas orais do Vale do Jequitinhonha

Autor: Cleomar Poletto

Programa de Pós-graduação: Mestrado Profissional em Educação e Docência da Faculdade de Educação (Promestre)

O que é: dissertação de mestrado que apresenta análise e sistematização de variações linguísticas presentes em narrativas orais gravadas de a 1987 a 1997 no Vale do Jequitinhonha (MG), tendo os pressupostos da sociolinguística variacionista como base de pesquisa.

Orientadora: Maria Gorete Neto

Ano da defesa: 2025

O episódio 200 do Aqui tem ciência tem produção, roteiro e apresentação de Alessandra Ribeiro e trabalhos técnicos de Cláudio Zazá. O programa é uma pílula radiofônica sobre estudos realizados na UFMG e abrange todas as áreas do conhecimento. A cada semana, a equipe apresenta os resultados de uma pesquisa desenvolvida na Universidade. 

O Aqui tem ciência vai ao ar na frequência 104,5 FM e na página da emissora, às segundas, às 11h, com reprises às sextas, às 20h, e pode ser ouvido também em plataformas de áudio como Spotify e Amazon Music.