Faculdade de Medicina promove treinamento prático de transplante pulmonar
Capacitação com cadáveres frescos congelados prepara equipe cirúrgica para a retomada do procedimento no Hospital das Clínicas
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A Faculdade de Medicina da UFMG promoveu, nesta quarta-feira, 26 de fevereiro, treinamento prático para a equipe de profissionais de saúde que atuarão na retomada dos transplantes de pulmão em Minas Gerais. Os procedimentos serão realizados pelo Hospital das Clínicas da UFMG/Ebserh. Participaram 23 profissionais ligados à cirurgia do tórax.
O treinamento foi realizado com cadáveres frescos congelados fornecidos pelo Vida após a vida, programa de doação de corpos para a ciência mantido pela Faculdade. O treinamento em cadáveres congelados é uma etapa essencial no processo, especialmente em procedimentos de alta complexidade como os transplantes de pulmão.
Esse preparo contribui para o aprimoramento técnico, a familiarização com técnicas específicas, a melhoria da coordenação da equipe, a redução de complicações e o aumento da confiança dos profissionais. “Treinar com tecido de cadáver fresco possibilita que a equipe esteja pronta, garantindo que o transplante ocorra de forma mais fluida”, explica o professor Daniel Bonomi, do Departamento de Cirurgia (CIR), coordenador do Setor de Cirurgia Torácica do HC.
Antes da realização desse treinamento, a equipe passou por capacitações tutoradas pelo serviço de Cirurgia Torácica e Transplante Pulmonar da Santa Casa de Porto Alegre, sob a liderança do professor José Jesus Camargo, que, em 1989, foi o primeiro profissional a comandar um transplante de pulmão na América Latina.
Minas na rota
Atualmente, o Brasil conta com dois grandes centros de transplante pulmonar, um em São Paulo e outro em Porto Alegre. Rio de Janeiro e Fortaleza estão em fase inicial desse serviço. “Com a retomada do transplante pulmonar, Minas Gerais entra nesse cenário com a proposta de se consolidar como novo polo transplantador”, explica o professor Bonomi.
A demanda pelo transplante é expressiva, principalmente devido a enfermidades pulmonares graves, como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), a fibrose pulmonar e a fibrose cística. “Essas são as principais enfermidades que levam os pacientes à necessidade de um transplante. Muitas vezes, essas doenças avançam a ponto de comprometer atividades básicas, como caminhar ou tomar banho, causando grande impacto na qualidade de vida. Poder modificar essa realidade e oferecer uma nova chance a esses pacientes é o que nos motiva”, destaca Bonomi.
O professor ressalta a importância da doação de corpos para a ciência: “Esse tipo de doação possibilita o desenvolvimento e a melhoria da sociedade. É essencial ter isso em mente, tanto na área da Medicina quanto na vida. No lugar do paciente, eu gostaria de ser operado por uma equipe treinada da melhor forma possível. Portanto, o Vida após a vida contribui para uma Medicina melhor”, finaliza.

A vida continua
Há 25 anos, a ciência brasileira enfrentava um desafio histórico: a disponibilidade de corpos humanos para formar novos médicos e desenvolver técnicas de forma ética, legal e correta. Foi então que nasceu na UFMG o primeiro programa brasileiro de doação voluntária de corpos, o Vida após a Vida. Em 2024, a iniciativa celebrou um quarto de século, agora equipada com tecnologias avançadas de congelamento (fresh frozen cadaver) e com o apoio de sociedades médicas e hospitais.
Além das aulas de graduação, a Faculdade também tem apoiado, nos últimos meses, treinamentos para médicos residentes e especialistas, em áreas como restauração da coluna lombar e cirurgia pélvica e vaginal reconstrutiva. Foram realizadas parcerias junto a sociedades de especialistas, como a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP) e a Associação Brasileira de Uroginecologia e Assoalho Pélvico (Uroginap).
A UFMG é a única instituição de ensino pública no Brasil a utilizar a tecnologia fresh frozen cadaver, que mantém a conservação dos corpos em câmaras de baixas temperaturas. Diferentemente da conservação em formol, método mais comum, os corpos recebidos pela UFMG são rapidamente congelados após o óbito, garantindo maior integridade dos componentes biológicos para pesquisas e aulas.
Como doar
Não há pré-requisitos ou contraindicações para a doação. Uma entrevista é realizada com o doador para informá-lo sobre todos os procedimentos. Qualquer pessoa com mais de 18 anos pode doar o corpo, preenchendo e assinando o Termo de Doação na Faculdade de Medicina da UFMG, com a assinatura de duas testemunhas. Menores de 18 anos podem doar com o consentimento da família.
O programa aceita doadores de Belo Horizonte e de outras cidades de Minas Gerais. Se o óbito ocorrer em outro estado, um programa de doação ligado à universidade mais próxima pode ser acionado para efetuar a doação. Consulte o site para saber mais.