Semana de Saúde Mental: gestores defendem políticas institucionais centradas no cuidado
Décima terceira edição do evento foi aberta nesta segunda-feira na UFMG

Dirigentes da UFMG destacaram a importância da institucionalização das políticas de cuidado, o papel da universidade na promoção da saúde mental e o caráter coletivo e interdisciplinar das ações desenvolvidas ao longo da última década na mesa de abertura da 13ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG, realizada na tarde desta segunda-feira, 12 de maio.

A reitora Sandra Goulart relembrou as origens do movimento em defesa da saúde mental na instituição. Como relatou, ainda em 2014, época em que era a vice-reitora da UFMG, ela coordenava reflexões que resultaram na criação de uma "rede informal", sob liderança da professora Stella Goulart [do Departamento de Psicologia, e referência na luta antimanicomial]. “A partir desse movimento espontâneo, surgiu a necessidade de institucionalizar as ações voltadas à saúde mental. Assim, criamos a Comissão Permanente de Saúde Mental”, disse.
Para a reitora, apesar dos avanços obtidos desde então, ainda há muito a ser feito. “Dez anos depois, temos um trabalho extensivo com a comunidade universitária, promovendo sensibilização e enfrentando um problema que não é apenas da nossa universidade, mas mundial”.
De acordo com Sandra Goulart, em reunião com reitores da World Wide University Network realizada em 2022, identificou-se a saúde mental como o maior desafio enfrentado pelas universidades no pós-pandemia. “Decidimos criar um grupo de trabalho para realizar um diagnóstico e pensar soluções viáveis para nossas instituições”, revelou.
'Virada de chave'
O vice-reitor Alessandro Fernandes ressaltou a importância da Comissão Permanente de Saúde Mental para a construção de uma política institucional destinada ao bem-estar da comunidade universitária. “A gente vem fazendo o trabalho que a Universidade precisa: conversar sobre saúde mental”, pontuou. “Faremos uma virada de chave e entregaremos à comunidade uma política com diretrizes e orientações. O enfrentamento exige trabalho coletivo”, disse.
Alessandro Fernandes anunciou que, durante a Semana, serão apresentados os resultados preliminares de pesquisa inédita, coordenada pela professora Janaína Soares, da Escola de Enfermagem. A pesquisa, segundo ele, consiste em um monitoramento sistemático sobre a saúde mental na comunidade universitária e conta com a participação de pesquisadores das universidades de Cape Town e de Bristol.

'Gesto político, ético e afetivo'
O pró-reitor de Extensão da UFMG, Glaucinei Corrêa, destacou que a Semana, para além de um evento no calendário acadêmico, é “uma expressão concreta de compromisso com o cuidado em saúde mental na universidade”. “Um gesto político, ético e, sobretudo, de cuidado com a saúde mental da nossa universidade, da nossa cidade e do nosso estado”, definiu. Glaucinei Corrêa lembrou que a iniciativa nasceu da escuta, da troca de saberes e da construção conjunta entre universidade e sociedade.
O tema da edição deste ano — Ainda lutamos aqui —, em seu entendimento, provoca e mobiliza a comunidade universitária, onde prevalecem “estigmas, preconceitos, silenciamentos”. O professor reforçou a necessidade de a universidade permanecer como aliada da luta antimanicomial e destacou o papel da rede de saúde mental da UFMG e da Universidade dos Direitos Humanos na articulação de ações concretas e práticas transformadoras. “Essas experiências mostram que a universidade tem muito a contribuir, mas também muito a aprender”, disse, referindo-se ao diálogo com movimentos sociais, serviços públicos e pessoas que vivem os desafios da saúde mental no dia a dia.
A diretora da Universidade dos Direitos Humanos da Pró-Reitoria de Extensão da UFMG, Maria Guiomar Cunha, afirmou que a organização da Semana é fruto de um processo colaborativo. “Fizemos muitas reuniões na rede de saúde mental para organizar, estruturar, divulgar e montar essa Semana, que vem muito potente”, afirmou. Segundo ela, o evento conta com envolvimento direto e constante de diversos setores. “As parcerias são viabilizadas, especialmente, pelo trabalho da Extensão, que abre espaço para o diálogo com temas fundamentais no campo dos direitos humanos”, situou.

Importância do SUS
Egresso do curso de graduação em Ciências Biológicas, o ex-aluno Leandro Frederico Gomes compartilhou seu testemunho pessoal como representante da luta antimanicomial. Ele relatou ter enfrentado um episódio de adoecimento mental em 2016 e iniciado o tratamento na rede privada, na qual persistem conceitos e práticas que considera ultrapassadas, como a eletroconvulsoterapia e o isolamento compulsório dos pacientes.
“A eletroconvulsoterapia provoca uma dessincronização das atividades cerebrais, podendo gerar sintomas como a perda de memória. Perdi um ano da minha vida depois de passar por 17 sessões”, relatou. Leandro Gomes reforçou que qualquer pessoa está sujeita ao adoecimento mental e defendeu a importância de reconhecer o SUS como espaço mais humanizado e eficaz de cuidado. “O tratamento pelo SUS, feito em liberdade, é muito mais avançado em relação à rede privada”, afirmou.
Após a mesa de abertura, a professora Sônia Barros, diretora do Departamento de Saúde Mental do Ministério da Saúde, ministrou a conferência Saúde mental, direitos humanos e cidadania.
As duas atividades inaugurais do evento foram transmitidas e podem ser assistidas na íntegra no canal da Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC) no YouTube.
O que vem por aí
A programação da Semana, que segue até o dia 16, inclui palestras e rodas de conversa, exibição de filmes, sarau, aulas de ioga e biodança, piquenique, oficina de fantasias e outras atividades em diferentes espaços da UFMG, culminando com o tradicional desfile da luta antimanicomial, que será realizado em clima de música, liberdade, festa e alegria.
A Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG é organizada por sua Rede de Saúde Mental, em parceria com a Universidade dos Direitos Humanos (UDH), diretoria vinculada à Proex. Historicamente, as atividades da Semana são propostas e oferecidas pela própria comunidade da Universidade, em colaboração com movimentos sociais e usuários dos serviços públicos de saúde mental de Belo Horizonte e do estado de Minas Gerais.