Institucional

‘Ainda lutamos aqui’ é tema da 13ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social

Evento ocorre de segunda, dia 12, a sexta, dia 16, com programação que inclui mesa-redonda com pesquisadores estrangeiros e o tradicional desfile da luta antimanicomial

Desfile pela Luta Antimanicomial foi realizado na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte
Neste ano, desfile pela luta antimanicomial será realizado no dia 16, com concentração na Praça da LiberdadeFoto: Raphaella Dias | UFMG

De segunda a sexta-feira (12 a 16 de maio), será realizada a 13ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG. A programação inclui palestras e rodas de conversa, exibição de filmes, sarau, aulas de ioga e biodança, piquenique, oficina de fantasias e outras atividades em diferentes espaços da UFMG, culminando com o tradicional desfile da luta antimanicomial, que será realizado na sexta-feira, 16, em clima de música, liberdade, festa e alegria. O evento, que marca a celebração do Dia Nacional da Luta Antimanicomial, ocorre às 12h30 na Praça da Liberdade. Como de praxe, o cortejo segue em direção à Praça da Estação.

Considerada a maior manifestação artística antimanicomial do país, o desfile de Belo Horizonte é promovido pelo Fórum Mineiro de Saúde Mental (FMSM). Contudo, quem faz a festa acontecer é a escola de samba Liberdade Ainda que Tantan, agremiação cujas atividades remontam aos meados dos anos 1990, sempre com intensa participação dos usuários dos serviços de saúde mental da cidade e do estado. No dia da festa, esses usuários – juntos a familiares e amigos, além dos trabalhadores da rede de saúde mental de BH e de membros da comunidade universitária – colocam o bloco na rua com alas e fantasias, carros alegóricos e samba-enredo, fazendo um pequeno carnaval temporão na cidade.

Historicamente, o objetivo do desfile é denunciar os retrocessos que estão sempre à espreita dos serviços de saúde mental e inclusão social oferecidos no Brasil. Em linhas gerais, a luta dessas pessoas é pela manutenção e pelo aprimoramento do tratamento em liberdade, livre de influências e amarras morais, ideológicas e religiosas Interessados em se aprofundar na história da luta antimanicomial no Brasil podem conhecê-la por meio das teses, dissertações e artigos que, disponíveis no Repositório Institucional da UFMG, investigam do tema.

Sarau Basaglia
Na sequência do desfile de sexta-feira, será realizado o Sarau Basaglia, evento que ocorrerá das 18h às 20h na sala multiuso do Espaço do Conhecimento UFMG. Nele, serão apresentados e debatidos livros e textos que discutem as políticas públicas de saúde mental brasileira e mundial sob a perspectiva da cultura antimanicomial instaurada por Franco Basaglia (1924-1980), psiquiatra italiano que é hoje uma espécie de patrono mundial dessa cultura, em razão da decisiva reforma que promoveu no sistema de saúde mental de seu país.

O sarau foi idealizado pela professora do Departamento de Psicologia da UFMG Stella Goulart, que coordenou a Comissão Institucional de Saúde Mental da UFMG, responsável por definir a Política Institucional de Saúde Mental da Universidade – em parceria com o pensador, ativista e gestor público italiano Ernesto Venturini. Em sua trajetória intelectual, Venturini se notabilizou por sua colaboração na construção da reforma psiquiátrica e da luta antimanicomial italiana. Ele foi catedrático do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat) em 2017, ocasião em que ministrou, na UFMG, a conferência A saúde mental em tempos de cólera. Ela pode ser assistida abaixo.

Inclusão e acolhimento
A Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG é organizada por sua Rede de Saúde Mental, em parceria com a Universidade dos Direitos Humanos (UDH), diretoria vinculada à Pró-reitoria de Extensão (Proex). Historicamente, as atividades da Semana são propostas e oferecidas pela própria comunidade da Universidade, em colaboração com movimentos sociais e usuários dos serviços públicos de saúde mental de Belo Horizonte e do estado de Minas Gerais.

Neste ano, o evento ocorre com o tema Ainda lutamos aqui, em uma sinalização do necessário caráter permanente da luta contra a estigmatização. Em termos práticos, o evento objetiva promover trocas de informações entre as estruturas envolvidas na oferta de serviços de saúde mental e na execução da política de saúde mental na Universidade, na cidade e no estado, incentivando o diálogo sobre o tema entre as comunidades interna e externa à UFMG.

Tirante as reuniões administrativas e de gestão, todas as atividades da Semana de Saúde Mental e Inclusão Social são abertas ao público geral. Algumas, contudo, tem inscrição, para que os participantes possam receber certificados. Essas inscrições devem ser feitas pelo Sistema de Gestão de Eventos da UFMG.

Saúde mental, direitos e cidadania

A abertura da 13ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG ocorrerá na segunda-feira, 12, às 14h, no auditório 101 do Centro de Atividades Didáticas 3 (CAD 3), no campus Pampulha, com a presença das autoridades da Universidade e de representante(s) dos usuários dos serviços de saúde mental de Belo Horizonte. Em seguida, às 14h30, a diretora do Departamento de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde, Sônia Barros, fará uma grande conferência sobre a situação da saúde mental, dos direitos humanos e da cidadania no atual contexto brasileiro.

Enfermeira graduada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Sônia Barros é professora aposentada da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP) e atua também como professora sênior no Instituto de Estudos Avançados dessa universidade. O departamento que ela dirige no Ministério da Saúde tem por competência formular, coordenar, implementar, acompanhar e monitorar a política nacional de saúde mental, álcool e outras drogas e dialogar com a sociedade brasileira com vistas a promover avanços nessa política.

Ainda na segunda-feira, às 17h, a sala 414 do Centro de Atividades Didáticas 1 (CAD 1) sediará mesa-redonda, da qual participarão Alisson Rubson Alves, enfermeiro do Hospital das Clínicas que integra o Núcleo Central de Saúde Mental e do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI) da UFMG, Vânia Martins, responsável técnica em saúde mental da Regional Pampulha, da Prefeitura de Belo Horizonte, e Carolina Camargos, assistente social do Centro de Referência em Saúde Mental – Álcool e Drogas (Cersam AD) da PBH.

Vânia vai tratar das “ações de matriciamento em saúde mental” no âmbito da regional Pampulha e de suas possibilidades de interlocução com os serviços de acolhimento da UFMG, que tem seu principal campus nessa localidade. Alisson, por sua vez, falará, à luz da legislação específica, das contribuições oferecidas pela UFMG para os percursos universitários de pessoas em sofrimento psíquico persistente. Já Carolina vai tratar das experiências – e de uma “mudança de rota” realizada – na atuação da Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde (SUS), em relação aos seus fluxos de atendimento às pessoas em sofrimento psíquico persistente.

Coordenadora do projeto Consultório na Rua, da PBH, Carolina também deverá abordar essa atividade no encontro. O Consultório na Rua trabalha para oferecer serviços de saúde à população de Belo Horizonte em situação de rua, também alcançando pessoas em sofrimento psíquico. Outro destaque da programação é a tradicional oficina para a confecção de fantasias para o esperado desfile. Ela será realizada na quarta-feira, 14, às 13h30, o Centro Acadêmico (CA) de Psicologia, que fica na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich).

Memory Muturiki, da Universidade da Cidade do Cabo, e Myles-Jay Linton, da Universidade de Bristol, vão participar de de mesa-redonda na Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG
Memory Muturiki, da Universidade da Cidade do Cabo, e Myles-Jay Linton, da Universidade de Bristol, vão participar de de mesa-redonda na Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG Fotos: Divulgação

Desafios globais, ações locais
Outro ponto alto da programação é a mesa-redonda Saúde mental nas universidades: desafios globais, ações locais na UFMG, que deve ser realizada na sexta-feira, dia 16, às 10h, no CAD 3 (auditório B106/107) com a participação de dois pesquisadores estrangeiros que são referência mundial no campo da saúde mental: a professora Memory Muturiki, diretora do Serviço de Bem-estar Estudantil da Universidade da Cidade do Cabo (UCT), na África do Sul, e o professor Myles-Jay Linton, da Universidade de Bristol, na Inglaterra, responsável pela condução de amplo programa de pesquisa sobre o tema da saúde mental de estudantes universitários, realizado na sua instituição.

Os dois integram a Worldwide Universities Network (WUN) – rede mundial de universidades que a UFMG integra como membro – como copresidentes do seu grupo consultivo de saúde mental estudantil. No decorrer da Semana de Saúde Mental e Inclusão Social, representantes da rede, incluindo os dois pesquisadores, terão encontros fechados com membros da administração central da UFMG para discutir, ao nível da gestão, os trabalhos realizados pela Universidade na construção e na implementação da sua Política de Saúde Mental.

O objetivo da mesa de sexta-feira é dar oportunidade para que os diversos agentes de saúde mental da UFMG também possam escutar os especialistas estrangeiros sobre o contexto atual das pesquisas globais realizadas sobre a saúde mental dos estudantes universitários. O encontro deve ser a oportunidade para uma primeira apresentação e discussão dos dados preliminares do censo de saúde mental da UFMG. O evento ocorre sob a coordenação da professora da Escola de Enfermagem Tereza Kurimoto e da professora do Departamento de Psicologia Andréa Máris Guerra. Ambas integram a Comissão Permanente de Saúde Mental da UFMG.

A programação da 13ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG pode ser acessada aqui. Atualizações serão informadas na página da Pró-reitoria de Extensão (Proex), no hotsite sobre saúde mental da Universidade nas redes sociais da Universidade de Direitos humanos (UDH) da UFMG.

Edição de 2017 do desfile que marca o Dia Nacional da Luta Antimanicomial
Cortejo parte da Praça da Liberdade, com destino à Praça da EstaçãoFoto: Júlia Duarte | UFMG

Ewerton Martins Ribeiro