‘Química é uma língua universal’, diz reitora da UFMG na abertura de olimpíada internacional
Autoridades brasileiras e russas destacaram as conexões culturais que serão criadas durante a competição, que reúne cerca de 260 estudantes de 40 países

Estudantes de 40 países e autoridades se reuniram na tarde de ontem (6 de maio) no Palácio das Mangabeiras, em Belo Horizonte, para a cerimônia de abertura da 59ª edição da Olimpíada Internacional de Química Mendeleev (IMChO), uma das mais antigas competições de química do mundo que ocorre, pela primeira vez, no Hemisfério Sul. A cerimônia contou com apresentações de samba, capoeira e do Balé Bolshoi de Joinville, única filial da companhia fora da Rússia.
Até 12 de maio, cerca de 260 estudantes do ensino médio farão as provas teóricas e práticas da competição nas salas de aula e laboratórios do Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas (ICEx), no campus Pampulha. A delegação brasileira que compete na IMChO tem 15 estudantes – um de Pernambuco, três de São Paulo e 11 do Ceará – sob a coordenação dos professores Artur Mota e Diego Gomes.

A reitora Sandra Regina Goulart Almeida se emocionou ao dar as boas-vindas aos estudantes que participam da Olimpíada. Ela afirmou que sediar o evento é uma prova dos esforços de colaboração entre o Brasil e o governo russo. “Os estudantes que estão aqui vieram de várias partes do globo e são unidos pela paixão pela química, uma língua universal que não tem fronteiras. Espero que essa Olimpíada os inspire e os desafie, mostrando o poder da química para unir a humanidade.” A reitora também citou a cientista polonesa Marie Curie, ao dizer que a ciência brilha no escuro e proporciona uma melhor compreensão daquilo que rodeia a humanidade. "Por isso, nada na vida é para ser temido, mas, sim, entendido. Devemos entender mais para temer menos.”

Juana Nunes, diretora de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação Científica do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCTI), afirmou que esse tipo de evento celebra a dedicação dos estudantes. Ela destacou que o Brasil organiza torneios semelhantes, como a Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) e a Olimpíada Nacional de Ciências (ONC). Em sua última edição, a ONC contou com a participação de mais de 4 milhões de estudantes de 5.032 municípios brasileiros.
“A nossa Olimpíada Nacional de Ciências é a maior plataforma de popularização da química no nosso país, porque ela tem conteúdos de ciências ancorados na química. Também quero destacar que estou muito feliz ao ver tantas meninas aqui hoje. O Brasil trabalha duro para que tenhamos mais meninas e mulheres na ciência e para que elas possam se tornar reitoras, como a Sandra, ou ministras como a Luciana Santos, nossa ministra de Ciência e Tecnologia", disse emocionada.
Ineditismo em Minas
Por ser a primeira vez que a Olimpíada Internacional de Química Mendeleev é realizada no Hemisfério Sul, várias autoridades destacaram o orgulho pela escolha de Minas Gerais e da UFMG para sediar o evento. O governador Romeu Zema, que se pronunciou por vídeo, afirmou que o governo de Minas tem trabalhado com responsabilidade para transformar a ciência e a educação do estado “por meio de investimentos em pesquisa e desenvolvimento". No ano passado, segundo ele, foram investidos mais de R$ 1 bilhão na ampliação de suas políticas de tecnologia e inovação", disse ele.
A fala do governador foi corroborada por Lucas Mendes, subsecretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do governo estadual, que pontuou os investimentos feitos nas universidades estaduais, empresas e centros de ciência. “Minas Gerais acredita na ciência, na tecnologia e na inovação como ferramentas de transformação.”

A reitora da UFMG se dirigiu aos jovens que participam da Olimpíada ao afirmar que a escolha de Minas Gerais para sediar o evento tem um significado especial devido a quatro fatores: história, natureza, ciência e amizade. Segundo ela, grande parte da herança cultural brasileira surgiu em Minas e serviu como instrumento para formatar a política brasileira e o seu legado. Em se tratando da natureza, ela destacou que Minas concentra paisagens maravilhosas e que os estudantes participantes da Olimpíada não podem deixar de conhecê-las. Sandra afirmou também que a Olimpíada promove um tributo à ciência e, por último, destacou a amizade entre os povos. "Na perseguição do conhecimento e da ciência, fazemos conexões que transcendem fronteiras e países. Não há nada mais importante que a verdadeira amizade. A colaboração em eventos como esse cria conexões entre mentes. Aqui, vocês não estão apenas engajados com a excelência científica, mas também experimentam a amizade.”
Compartilhar conhecimento
Outros participantes da cerimônia de abertura também destacaram as conexões geradas nesse tipo de evento. Dmitry Chernyshenko, vice-primeiro-ministro da Rússia, afirmou, por vídeo, que a IMChO é uma plataforma para promover a ciência e compartilhar o conhecimento. Ele acrescentou que essa edição da Olimpíada integra as celebrações do 10º Aniversário da Ciência e da Tecnologia anunciadas pelo presidente russo, Vladimir Putin.
“Essa edição também é simbólica porque ocorre no Brasil, país que integra o bloco do Brics com a Rússia. A Olimpíada possibilita a cooperação para uma nova geração de cientistas ao criar um espaço intelectual unificado entre os participantes dos diversos países. É um impulso para a cooperação de cientistas de várias partes do mundo", afirmou o vice-primeiro-ministro.
Stepan Kalmykov, vice-presidente da Academia Russa de Ciências (RAS), e Andrey Meinnichenko, da Fundação Melnichenko, também destacaram as relações proporcionadas pela competição. "São oportunidades que se abrem para os estudantes que participam. É provável que essa competição se torne um marco na carreira científica desses jovens", projetaram.

Como funciona
Os estudantes que competem na IMChO participarão de três rodadas de testes, duas teóricas e uma prática. As tarefas da primeira rodada teórica correspondem, em termos de complexidade, ao programa de aulas especializadas. Na segunda etapa teórica, são oferecidas atividades de nível mais elevado que podem abranger diversas áreas da química, como a orgânica, a inorgânica, a física, a analítica ou as ciências da vida.
A terceira bateria de testes é prática, e os alunos utilizarão os laboratórios de ensino do Departamento de Química da UFMG. A rodada experimental da Olimpíada tem duração de cinco horas e exige que os participantes demonstrem habilidades para trabalhar em um laboratório, realizando análises de substâncias de acordo com as metodologias propostas.
Ao longo de toda a competição, os mentores dos participantes também se reúnem com professores, realizam mesas-redondas, seminários e masterclasses, o que fomenta iniciativas de cooperação entre as instituições participantes. Os vencedores da Olimpíada Internacional de Mendeleev receberão medalhas de bronze, prata e ouro. Alguns países participantes também podem oferecer aos seus vencedores bolsas de estudos ou prêmios em dinheiro.

Homenagem ao descobridor da lei periódica
O torneio recebeu esse nome em homenagem ao químico russo Dmitry Ivanovich Mendeleev, que descobriu a lei periódica, com base na qual foi criada a Tabela Periódica dos Elementos Químicos.
O Brasil enviou delegações para outras duas edições: no ano passado, na China, e em 2023, no Cazaquistão. A edição deste ano é organizada pela UFMG, pela Faculdade de Química da Universidade Estadual de Moscou e pela Fundação Melnichenko, que reconhece os vencedores da competição individual com o Prêmio Acadêmico Valery Lunin, criado em homenagem ao fundador da Olimpíada Mendeleev e principal responsável por sua projeção internacional.
Parceria fortalecida
Antes da abertura da Olimpíada Internacional de Química Mendeleev, a reitora Sandra Goulart Almeida e o vice-presidente da Academia Russa de Ciências, Stepan Kalmykov, assinaram protocolo adicional para fortalecimento das atividades educacionais e científicas na área de química. O acordo aprofunda a cooperação existente entre a UFMG e a Faculdade de Química da Universidade Estadual de Moscou Lomonossov.
Com validade de três anos, o instrumento prevê a realização de estudos para criação de programas de dupla titulação, o estreitamento de laços para troca permanente de informações, a organização de eventos científicos conjuntos e a realização de pesquisas. “Esperamos que a olimpíada seja apenas um marco das muitas atividades conjuntas que pretendemos desenvolver”, projetou Sandra Goulart.
