UFMG sedia Cúpula Global da Juventude pelo Clima, preparatória da COP30
Quinhentas lideranças ambientais participam dos debates; evento defenderá a preservação da biodiversidade como condição essencial para a efetividade do combate à crise climática

A população jovem do mundo é a que mais tem motivos para se preocupar com a crise climática que vivemos hoje. Afinal, é ela quem enfrentará, por mais tempo, e em piores condições, o desafio de viver em um planeta cada vez mais quente e climaticamente inseguro. Diante desse cenário, os jovens do Sul Global têm ainda mais motivos para se preocupar: por razões diversas, essa crise tem afetado mais intensamente as populações que ficam ao Sul do Equador, entre as quais se encontra a brasileira.
Este é o contexto no qual, nesta semana, de 2 a 5 de abril, a UFMG recebe a Cúpula Global da Juventude pelo Clima 2025, evento que vai reunir presencialmente duas centenas de jovens líderes climáticos de mais de 40 países (principalmente do Sul Global vulnerável, mas não exclusivamente) interessados em encontrar caminhos para a construção de um futuro climático menos inseguro e influenciar o pensamento dos grandes tomadores de decisão. Outros 300 jovens ativistas devem participar dos debates virtualmente.
Realizada pela organização internacional Global Youth Leadership Center (GYLC) em colaboração com a UFMG, a cúpula visa expandir o conhecimento da juventude sobre a ciência climática, desenvolver diferentes habilidades de liderança e capacitar essas novas vozes para que possam desenvolver ações de impacto no combate à crise climática em seus países e em suas comunidades. A Cemig (patrocinadora ouro), a Fiemg (patrocinadora prata) e a Itaminas (parceira de descarbonização) são instituições também envolvidas com o evento.
“Nossa preocupação não é só com o futuro, mas também com o presente: já estamos vivendo sob os efeitos das mudanças climáticas. É muito importante capacitarmos os jovens para que sigam investindo na defesa da sustentabilidade ambiental e no conhecimento científico baseado em evidências: foi assim que enfrentamos a pandemia; assim, esperamos enfrentar a crise climática”, defende a reitora Sandra Regina Goulart Almeida. “Hoje, a UFMG tem papel de liderança nacional na defesa da ciência, e a vinda desse evento para a nossa Universidade, nos meses que antecedem a COP30, demonstra isso”, destaca a dirigente.

Tradição
A Cúpula Global da Juventude pelo Clima 2025 é uma das atividades preparatórias da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30). A conferência ocorrerá de 10 a 21 de novembro de 2025 em Belém, no Pará, dando sequência à longa tradição brasileira de sediar eventos focados na preservação ambiental e no desenvolvimento sustentável.
“Talvez esse seja o evento mundial preparativo para a COP30 de maior importância internacional”, afirma o professor Ricardo Gonçalves, diretor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG. “Tivemos mais de quatro mil candidaturas, entre as quais foram escolhidos os 200 delegados que vão se reunir presencialmente aqui na UFMG para discutir as mudanças climáticas e as saídas para a crise atual”, explica. O ICB é a unidade acadêmica da UFMG responsável por receber o evento.
Na cúpula, serão selecionadas dez lideranças de regiões em situação de vulnerabilidade para receber 1 mil dólares cada. Os recursos poderão ser usados na implementação de projetos de clima e biodiversidade em suas comunidades. “A cúpula também vai resultar em uma carta aberta, que será remetida às autoridades, sugerindo encaminhamentos a partir do que foi discutido”, explica Gonçalves. A ideia é que essa “Carta de Belo Horizonte” forneça contribuições objetivas para as conversas climáticas da COP30.
Para concorrer ao prêmio, os jovens participantes elaboraram e apresentaram projetos a ser implementados em suas comunidades durante três meses (no próximo semestre), com foco na promoção do bem-estar dos ecossistemas e dos seres humanos lá residentes. Os projetos vencedores serão selecionados “com base na criatividade, no plano de implementação e no impacto potencial”, afirma-se no site do evento. O resultado será anunciado no sábado, dia 5, na plenária de encerramento.
O fator biodiversidade
A Cúpula Global da Juventude pelo Clima 2025 foi trazida para a UFMG por meio do professor Geraldo Wilson Fernandes, do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução do ICB. Coordenador do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do INCT Centro de Conhecimento em Biodiversidade, Geraldo Fernandes é uma das maiores autoridades mundiais na investigação científica relacionada à biodiversidade. Convidado pela GYLC para estar à frente do evento no Brasil, ele fez questão de trazê-lo para a UFMG, em Belo Horizonte, para fomentar um amplo debate sobre a preservação da biodiversidade.

“O nosso entendimento é o de que não adianta falar de clima e de crise climática se não adicionarmos ao debate a coisa mais importante do planeta, que é a vida. Ora, vida é biodiversidade; é através da biodiversidade que temos os serviços ecossistêmicos, essenciais para a nossa sobrevivência. A questão da biodiversidade funciona assim: uma vez perdida, é muito complicado recuperar; quando algo é extinto, é extinto para sempre. É fundamental, portanto, engajarmos a biodiversidade nessas discussões sobre o clima”, defende. “Diante disso, apresentamos essa demanda de realizar os debates sobre o clima atravessados pela variável da biodiversidade, e os organizadores aceitaram imediatamente”, explica Fernandes.
O professor do ICB insiste que o cuidado da biodiversidade é condição indispensável e incontornável para a efetividade do combate à crise climática. “Qualquer medida de combate a essa crise que não adicione ganho líquido em biodiversidade é um problema. Assim, pretendemos comunicar essa necessidade premente de trabalharmos de modo integrado o fomento da biodiversidade e as medidas de combate e de mitigação das mudanças climáticas. Queremos que essa mensagem chegue aos jovens, que são os que mais vão sofrer as consequências da destruição promovida hoje”, afirma.

'Muito a ensinar'
A cerimônia de abertura ocorre nesta quarta, dia 2, às 15h, no auditório 1B (sala 112) do centro de Atividades Didáticas 1 (CAD 1), em modelo híbrido (presencial, mas com transmissão e participação também on-line). Dela participam a reitora Sandra Goulart Almeida, o CEO da GYLC, Ejaj Ahmad, entre outras autoridades brasileiras e estrangeiras, como assessores especiais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério do Meio Ambiente (MMA). A programação do evento pode ser conhecida em seu site.
Um dos participantes dessa mesa de abertura é a jovem ativista climática indígena do Pará Rayane da Silva França Xipaia. Pertencente à etnia Xipai e membro da Comunidade Indígena Apïrinã, Rayane vem realizando há algum tempo formações com estudantes e professores sobre as mudanças climáticas e a vida dos povos indígenas brasileiros. Uma de suas bandeiras é justamente o papel que a educação comunitária desempenha no combate à crise climática. “A educação dessas populações é muito importante nesse processo. Se as pessoas diretamente envolvidas compreenderem o processo pelo qual estamos passando, será muito mais fácil desenvolver soluções para as suas localidades”, argumenta.
Em sua fala, Rayane Xipaia também pretende descrever o papel preponderante, essencial e incontornável exercido pelos povos indígenas para a superação da crise climática. “A verdade é que os indígenas coexistem desde sempre com a floresta sem fazer mal a ela. Temos, portanto, muito a ensinar. Em minha fala, pretendo tratar de todo o engajamento dos povos indígenas no âmbito do combate à crise climática. Não somos ‘atrasados’: a nossa ciência, a nossa tecnologia, a nossa forma de lidar com a natureza e com tudo o que rege o planeta Terra é essencial não só para a nossa população, mas para todas as outras sociedades".

Rayane também pretende tratar da justiça climática em sua exposição, sob a perspectiva da justiça social. “A gente sabe que, infelizmente, as pessoas mais atingidas por essa crise são as que vivem em uma situação social de maior vulnerabilidade: aquelas que vivem nos ambientes rurais, nas periferias e nas favelas. Há uma diferença enorme entre uma pessoa perder sua casa para uma enchente e outra ver uma enchente de sua cobertura, num prédio alto, onde pode estocar alimentos e água por muitos meses", exemplifica.
Além Rayane, jovens líderes climáticos de países como Japão, Quênia, África do Sul, Bangladesh, Peru e Gana terão oportunidades, no evento, de se dirigir às autoridades presentes, para sugerir direcionamentos e cobrar ações. “Essa cúpula representa uma oportunidade crítica para que as vozes dos jovens moldem a agenda climática global antes da COP30”, afirma Ejaj Ahmad, CEO da GYLC. Para ele, à medida que a crise climática afeta desproporcionalmente as comunidades do Sul Global, é essencial que os jovens dessas regiões também liderem as conversas sobre as soluções a serem buscadas.