Pesquisa e Inovação

Recém-lançada, coletânea sobre a obra de Coetzee está disponível em bibliotecas da UFMG

Organizado por Sandra Goulart e Wellington Marçal, livro investiga os recursos utilizados pelo autor para tratar de temas como violência, resistência e vulnerabilidade na literatura

'J.M. Coetzee no Brasil: ensaios críticos' (Zouk, 2024)
'J.M. Coetzee no Brasil: ensaios críticos' (Zouk, 2024) Imagem: Reprodução de capa

A reitora Sandra Regina Goulart Almeida e o vice-diretor da Biblioteca Universitária, Wellington Marçal de Carvalho, lançaram, no fim do ano passado, o livro J.M. Coetzee no Brasil: ensaios críticos, que reúne interpretações do projeto literário e político do escritor sul-africano, uma das vozes literárias mais relevantes da atualidade. Publicada pela editora Zouk, em cujo site ela pode ser adquirida, a obra também está disponível nas bibliotecas da Faculdade de Letras (Fale), da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) e no Acervo Africano, instalado no quarto andar da Biblioteca Central, ao lado da Praça de Serviços.

O volume reúne textos de Ângela Lamas Rodrigues, Carla Luciane Klos Schöninger, Carlos Augusto Lima de Oliveira, Emílio Maciel, Fernanda Dusse, Fernando Teixeira de Oliveira, Gabriel Fernandes de Miranda, Genilda Azeredo, Gracia Regina Gonçalves, Maria Conceição Monteiro, Miguel Nenevè, Pedro Aurélio Tenório Sobral, Ruane Maciel Kaminski, Tiago Guilherme Pinheiro, Ximena Antonia Díaz Merino, além de artigos dos próprios organizadores.

Em seus textos, esses pesquisadores discutem, entre outros temas, os caminhos literários utilizados por Coetzee para abordar temas como resistência, violência, vulnerabilidade e tortura como instrumento de manutenção das máquinas imperialistas. Seus artigos analisam recursos como a representação, o jogo de espelhos, a memória e as aproximações entre obras do próprio escritor e criações literárias de outros espaços e contextos do mundo.

“As articulações de Coetzee com a literatura latino-americana, o percurso ensaístico literário realizado por ele, o ‘escrever contra si mesmo’ em oposição à ‘escrita de si’ são, entre outras, questões investigadas na obra”, afirma Wellington Marçal. Professora da Faculdade de Letras, onde atua com foco na Literatura Comparada e nas Literaturas de Língua Inglesa, Sandra Goulart Almeida destaca que, ao transitar entre factualidade e ficcionalidade, a produção literária do autor sul-africano retoma, também, a memória do apartheid e do pós-apartheid na África do Sul e os impactos desses contextos políticos e históricos na contemporaneidade.

Literatura para enfrentar a complexidade
“Literatura e crítica literária são potentes ferramentas para nos auxiliar a enfrentar a complexidade do mundo, sobretudo em contextos políticos e históricos profundamente marcados por regimes de violência, como é o caso do apartheid implementado na África do Sul. O gesto literário, em escritores engajados com a sua realidade, como Coetzee, assume como parte importante de seu projeto ficcional indagar as idiossincrasias que formam o tecido social e oferece possibilidades de desestabilizar tentativas de explicar a contemporaneidade em linhas dicotômicas”, salienta a professora.

Sandra Goulart e Wellington Carvalho, organizadores da obra
Sandra Goulart e Wellington Carvalho, organizadores da obra Foto: Izabel Araújo | UFMG

Literatura comparada
Nascido na Cidade do Cabo, na África do Sul, Coetzee desenvolve um projeto literário e político marcado por uma construção narrativa crítica e reflexiva, permeada por uma fina ironia. Filho de pais de origem holandesa e alemã, ele é considerado um “africâner”, termo utilizado para retratar os indivíduos brancos que, nascidos na ou habitantes da África do Sul, descendem de colonizadores holandeses. Os organizadores da coletânea destacam que, em face desse contexto, vários estudos podem ser engendrados com base na obra de Coetzee.

“A produção literária do autor se abre para diversas perspectivas no campo da literatura comparada, por meio de análises de obras de escritores brasileiros e de outros países que podem ser contrastadas com as importantes questões que Coetzee suscita. Um bom exemplo, que integra a presente coletânea, é o capítulo de autoria do pesquisador Miguel Nenevè, que nos convida a uma reflexão sobre o mal causado pela imposição da força aos menos favorecidos – em nome de um império e do nacionalismo exacerbado – tanto em diferentes espaços da África como na Amazônia ocidental”, ressalta Sandra Goulart.

“A mirada crítica de Coetzee, presente em sua vasta produção ensaística, também é bibliografia valiosa para estudos que tomam como objeto as muitas formas com as quais se concretizam sociedades assentadas em violações de toda espécie”, ela destaca.

“São muito promissoras as pesquisas que aceitam a provocação expressa na obra de Coetzee e adentram seus textos com chaves de leitura das teorias pós-humanistas, por exemplo”, completa Wellington Marçal. “Por outra perspectiva, pesquisar com foco na importância que o escritor confere às bibliotecas, por exemplo, enquanto lugares de refúgio da memória, no continente africano e, mais especificamente, na África do Sul, é um desafio a ser ainda enfrentado por pesquisadores da área”, ele aponta.

Vários títulos que compõem a produção literária do escritor estão disponíveis nas bibliotecas da UFMG. A pesquisa pode ser feita pela internet, no Sistema de Bibliotecas da Universidade.

Livro: J. M. Coetzee no Brasil: ensaios críticos
Organizadores: Sandra Regina Goulart Almeida e Wellington Marçal de Carvalho
Editora Zouk
334 páginas | R$ 70 

Carla Pedrosa | Sistema de Bibliotecas da UFMG