Pesquisa analisa trajetórias de estudantes indígenas na UFMG
Dissertação de mestrado defendida na pós-graduação em psicologia é tema do novo episódio do ‘Aqui tem ciência’, da Rádio UFMG Educativa

O ingresso e a permanência de estudantes indígenas na UFMG foram campo de estudo da pesquisadora Monaliza Alcantara durante o mestrado realizado no Programa de Pós-graduação em Psicologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), onde atualmente ela cursa o doutorado.
A pesquisa se baseou na realização de oficinas coletivas em 2024, no âmbito de um projeto de extensão, com a participação de oito estudantes das etnias Bakairi, Pankararu, Pataxó e Xakriabá, cujo ingresso na Universidade se deu por meio do Programa de Vagas Suplementares, que reserva até duas vagas para estudantes indígenas em determinados cursos de graduação – como direito, medicina, odontologia e psicologia, entre outros.
Também foram realizadas entrevistas com quatro professoras envolvidas nas políticas afirmativas para população indígena da UFMG no período. O trabalho inclui ainda um resgate histórico da luta pela educação indígena no Brasil e da chegada desses alunos na UFMG.
A autora resgata momentos importantes na instituição, a exemplo da criação da Formação Intercultural para Estudantes Indígenas (Fiei), em 2009, na Faculdade de Educação (FaE), e da instituição do Programa de Vagas Suplementares, em 2016. “Ambos foram construídos como resultado da articulação e de uma reivindicação direta das lideranças indígenas de Minas, a partir das necessidades dos próprios territórios”, afirma, destacando o protagonismo desses povos no processo.
Ouça o novo episódio do Aqui tem ciência e saiba mais sobre a pesquisa:

Carta-recomendação
Uma das contribuições da pesquisa foi a elaboração de uma carta-recomendação, com a participação dos estudantes, que apresenta sugestões para o aprimoramento das políticas de acesso e permanência estudantil voltadas para indígenas na UFMG. O documento deve ser encaminhado para o Colegiado Especial de Vagas Suplementares para Estudantes Indígenas da UFMG.
Dentre as sugestões, está a proposta de revisão do processo seletivo do Programa de Vagas Suplementares, que atualmente requer a participação dos candidatos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A autora da pesquisa defende a realização de um processo seletivo específico, assim como ocorre no Fiei, considerando a diversidade e também as particularidades da educação indígena.
“O Enem parte do pressuposto de um conhecimento geral único, com base na ideia de que todas as pessoas tiveram o mesmo acesso ao conhecimento da língua portuguesa, da matemática, das ciências biológicas etc. Nós entendemos que isso não contempla a educação indígena, que é muito maior e tem ramificações para além dessa perspectiva global do Exame Nacional do Ensino Médio”, defende Alcantara.
Entre outras questões, o trabalho enfatiza ainda a importância de garantir que todos os estudantes indígenas possam ter o vínculo com seus territórios preservado, com visitas periódicas às suas respectivas comunidades durante a graduação.
Posicionamento
Por meio de sua Assessoria de Imprensa, a UFMG informa que implementou mudanças significativas nas duas últimas edições do processo seletivo do Programa de Vagas Suplementares para Estudantes Indígenas. Desde 2024, a nota dos candidatos passou a ser calculada a partir de dois componentes: um memorial, de peso maior, no qual o candidato analisa o impacto de sua formação na comunidade de origem; além da média obtida nas provas do Enem, podendo ser utilizada qualquer edição dos últimos seis anos.
A Universidade também esclarece que, em conformidade com a Lei nº 13.796 de 2019, estudantes indígenas regularmente matriculados nos cursos de graduação podem solicitar o abono de faltas para participação em rituais tradicionais considerados essenciais em suas comunidades de origem.
Financiamento
A dissertação foi desenvolvida sob orientação da professora Cláudia Mayorga, do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich). Durante o mestrado, a pesquisadora recebeu recursos da Bolsa TAC Carrefour, fruto de um Termo de Ajustamento de Conduta firmado entre a rede de supermercados, o Ministério Público e a Defensoria Pública da União e do estado do Rio Grande do Sul.
O edital prevê a distribuição de R$ 68 milhões em bolsas de graduação e pós-graduação destinadas a pessoas negras em todo o Brasil, como forma de reparação pela morte de João Alberto Silveira de Freitas nas dependências de uma unidade do Carrefour em Porto Alegre em novembro de 2020.
Raio-x da pesquisa
O que é: Dissertação de mestrado que analisa o ingresso e a permanência de estudantes indígenas na UFMG. A pesquisa se baseou na realização de oficinas coletivas em 2024, no âmbito de um projeto de extensão, com a participação de oito estudantes das etnias Bakairi, Pankararu, Pataxó e Xakriabá, que ingressaram na Universidade por meio do Programa de Vagas Suplementares. Também foram realizadas entrevistas com quatro professoras envolvidas nas políticas afirmativas para população indígena da UFMG no período. O trabalho inclui ainda um resgate histórico da luta pela educação indígena no Brasil e da chegada desses alunos na UFMG, além de uma carta-recomendação que apresenta sugestões para o aprimoramento das políticas de acesso e permanência estudantil voltadas para indígenas na Universidade.
Autora: Monaliza Silva de Alcantara
Orientadora: Claudia Andrea Mayorga Borges
Programa de pós-graduação: Psicologia
Ano de defesa: 2025
O episódio 199 do Aqui tem ciência tem produção, roteiro e apresentação de Alessandra Ribeiro, com trabalhos técnicos de Breno Rodrigues e Cláudio Zazá. O programa é uma pílula radiofônica sobre estudos realizados na UFMG e abrange todas as áreas do conhecimento. A cada semana, a equipe apresenta os resultados de uma pesquisa desenvolvida na Universidade.
O Aqui tem ciência vai ao ar na frequência 104,5 FM e na página da emissora, às segundas, às 11h, com reprises às sextas, às 20h, e pode ser ouvido também em plataformas de áudio como Spotify e Amazon Music.