Dicionário de 'polarização política e emoções' tem conceito descrito por pesquisadores do DCP
Organizado na Espanha, volume tem 100 conceitos elaborados por autores de vários países; professora Mara Telles e o cientista político João Cardoso definiram 'polarização temática'

A professora Helcimara Telles, do Departamento de Ciência Política da Fafich, e o pesquisador João Cardoso, mestre em Ciência Política pela UFMG , estão entre os autores do recém-lançado Diccionario enciclopédico de polarización política y emociones, editado pelo Centro de Estudos Políticos e Constitucionais (CEPC) do Governo da Espanha em colaboração com a Associação Latino-Americana de Pesquisadores em Campanhas Eleitorais. Ficou a cargo de Mara e João descrever o conceito de Polarização temática.
A obra explora o fenômeno da divisão política e explica as origens e consequências do clima de hostilidade emocional que afeta muitas democracias. O volume reúne 100 conceitos, como teorias da conspiração, polarização afetiva, estereótipos partidários, discurso de ódio, neuropolítica, nativismo, violência política e pós-verdade. Como escrevem os organizadores da obra, a terminologia da ciência e da comunicação política é frequentemente marcada por falta de precisão, o que dá origem a ambiguidades significativas. “Essa imprecisão é agravada pelo uso cotidiano de muitos desses termos em ‘linguagem comum’, o que os distancia do rigor acadêmico. Para neutralizar esse problema, esse dicionário exigiu um esforço minucioso na delimitação das definições, evitando distorções conceituais e generalizações que diluíssem os significados originais”, afirmam, em texto de apresentação.
Polarização temática
A noção de polarização é muito ampla. Existem, entre outras, a polarização ideológica – que distancia grupos coesos no que se refere a assuntos políticos – e a afetiva, que se caracteriza pelo amor das pessoas pelos seus semelhantes e ódio aos diferentes. A polarização temática é a distância que se cria em torno de assuntos muito específicos, segundo explica o cientista político João Cardoso.
“Há pessoas que partilham da visão econômica que concede mais liberdade para as empresas e os indivíduos, e outras defendem maior intervenção do Estado”, exemplifica. “O campo mais comum de polarização é o que abrange os valores culturais. Num extremo da escala, estão os conservadores, no outro, as pessoas mais liberais com relação aos costumes. Por mais que pessoas dos dois lados concordem sobre economia, mantêm-se em lados opostos por causa desses valores. Ou seja, um tema em si é capaz de estabelecer uma clivagem política, a separação entre os grupos", afirma Cardoso, que é doutorando na Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill (EUA).
O pesquisador ressalta que o assunto tem sido abordado na literatura e que a novidade é o esforço para tornar essa discussão, que é muito atual, acessível para a população. "É um trabalho de divulgação científica, e nossa participação mostra o comprometimento da UFMG em facilitar a comunicação para o público do que se debate na academia", afirma João Cardoso.
Dez países e 71 autores
O Diccionário enciclopédico de polarización política y emociones é coordenado por Ismael Crespo, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de Múrcia (Espanha), e os editores são seus colegas José Miguel Rojo, María Isabel López Palazón e F. Ramón Villaplana. O livro é resultado do esforço de 71 autores – 37 mulheres e 34 homens – de dez países. Os países com maior número de colaboradores são Espanha (41), Argentina (12) e México (7). Os 71 autores provêm de 16 instituições espanholas e 21 estrangeiras. Cada um dos 100 conceitos que compõem o volume foi submetido a um rigoroso processo de revisão por pares, o que garante a qualidade e relevância acadêmica da obra.
A iniciativa tem apoio da Fundação Seneca, por meio do projeto Polariza. O volume pode ser adquirido no site do Centro de Estúdios Políticos y Constitucionales do governo da Espanha. Em breve, o livro ganhará uma versão digital.