Iniciativa representa uma volta às origens para os produtores ouvidos pela reportagem da TV UFMG

Agricultores urbanos de cinco bairros de Montes Claros – Recanto das Águas, Village do Lago, Barcelona, Ciro dos Anjos e Renascença – recebem orientação técnica da equipe do projeto de extensão Agricultura urbana e planejamento urbanístico, coordenado pelo professor Hélder dos Anjos Augusto, diretor do campus regional da UFMG em Montes Claros. A iniciativa, que teve início em 2010, é vinculada ao Programa de Desenvolvimento Rural e Apoio à Reforma Agrária (Prodera).

Hélder dos Anjos explica que foram identificadas três categorias de agricultores, com base em mapeamento feito pela equipe do projeto: “Há um tipo de produtor que usa a própria propriedade. Outros usam áreas públicas, nas quais desenvolvem certa cooperação. E há aqueles, vinculados a associações, que conseguem acessar políticas públicas com base em chamadas dos governos estadual e federal para aquisição de equipamentos".

Na associação de agricultores urbanos do bairro Ciro dos Anjos, o projeto reúne nove agricultoras. Para muitas delas, o trabalho é uma forma de retomar os laços com as origens. “Quando a gente começou, [o projeto] era para as mães de alunos aqui da escola. Aí, gente se engajou e está até hoje, né? A gente gosta muito, a gente era da roça. Achamos essa oportunidade, e a gente continuou. É muito prazeroso”, conta Romana de Jesus, uma das participantes.

Mestre em agroecologia pela UFMG em Montes Claros, Giliarde Brito é um dos responsáveis por prestar assistência técnica ao grupo de mulheres. Ele destaca o perfil social das agricultoras do bairro: “Elas migraram para Montes Claros há mais de 40 anos. São mulheres de 50 a 80 anos de idade que praticam a agricultura urbana. Algumas delas não têm a presença dos maridos, que morreram. São mulheres que cuidam dos netos. A horta para elas é um refúgio”.

Também agricultora do bairro Ciro dos Anjos, Janice Costa de Jesus conta que cresceu acompanhando o pai nas feiras do antigo mercado da Rua Coronel Joaquim Costa, no centro da cidade. Hoje, ela é feirante no Mercado Central e participa de feiras livres. Para Janice, a assistência técnica recebida por meio do projeto de extensão tem reflexos diretos na qualidade dos produtos que entrega. “Eu me sinto segura. Gosto de coisa boa, minhas plantinhas todas boas. Os clientes me elogiam, pois mando coisa fresquinha, sem agrotóxico. Para mim, não tem igual", relata.

Esporte, artesanato e costura

Um trabalho de abrangência maior tem sido realizado no Instituto Village Ativo, no bairro Village do Lago, próximo ao campus regional da UFMG em Montes Claros. Presidida por Adão Batista Rocha, ex-funcionário da jardinagem do campus, a organização tem frentes com jovens (esporte) e com mulheres (costura, artesanato e agricultura urbana). "Os resultados no futebol, por exemplo, são animadores. “Recentemente, disputamos o Campeonato Norte Mineiro e fomos campeões invictos”, informa Adão Rocha.

Os trabalhos com a agricultura urbana abrangem atividades nas comunidades e no campus. Para os estudantes, o projeto representa a oportunidade de aprender na prática um pouco do dia a dia da profissão. Ao acompanhar agricultores urbanos, a estudante de Agronomia Fernanda Lourenço identificou situações que normalmente não são registradas dentro do ambiente de pesquisa. “Uma vivência com os produtores é bem diferente de uma aula prática, que, às vezes, é uma condição mais controlada. O que a gente estuda na teoria nem sempre vê na prática. Aqui, a gente consegue avaliar com o produtor se determinada solução vai funcionar ou não”, relata Fernanda.

O trabalho desenvolvido pelo projeto Agricultura urbana e planejamento urbanístico foi tema de reportagem da TV UFMG (equipe: Ana Cláudia Mendes e Olívia Resende - produção; Olívia Resende - reportagem e edição de conteúdo; Ângelo Araújo e Samuel do Vale - imagens; Marcelo Duarte e Otávio Zonatto - edição).