Obras no Centro Cultural UFMG exploram influência da matéria, memória e imagem de ornamentos na arquitetura

O Centro Cultural UFMG convida para a abertura da exposição individual Matéria e Memória, da artista plástica ítalo-brasileira Daniela Marton, com texto curatorial de Tom Lisboa. A mostra reúne trabalhos inspirados pela conexão entre matéria, memória e a imagem de ornamentos presentes na arquitetura, dentre eles pinturas, estênceis e arte digital. O evento acontece no dia 6 de dezembro, sexta-feira, às 19h. As obras poderão ser vistas até 2 de fevereiro de 2025. A entrada é gratuita e tem classificação livre.

Matéria e Memória

A exposição Matéria e Memoria visa apresentar uma série de pinturas que surgiu na época da pandemia, onde as relações pessoais passaram a ser feitas a distância, a qual reforçou ainda mais a busca por elementos arquitetônicos que tivessem algum apelo de memória afetiva para a artista. As imagens dos ornamentos acabam sendo ressignificadas, assumindo a função de articuladores das suas memórias e estimuladores das suas lembranças. Embora a pandemia tenha acabado, esse resgate da memória afetiva proveniente dos ornamentos arquitetônicos continua em suas obras, como uma forma de resgatar essas memórias e vivenciá-las novamente, recriando novos sentimentos.

O campo pictórico, dessa forma, acaba ganhando mais corpo, se tornando mais matérico e, por sua vez, as imagens começam a sofrer interferências com a materialidade da pintura, que acaba alterando-as, ressignificando assim a recordação afetiva contida nelas.

A pintura se apresenta como um resultado da atualização dessas lembranças, passando assim a matéria fazer parte da memória, de modo que surja o passado e o presente, colocados em comunhão. O acréscimo dos elementos arquitetônicos promove um novo processo artístico, composto por diferentes elementos artísticos: o estêncil (gravura), as fotografias arquitetônicas, o Autocad (software da arquitetura surgindo arte digital).

Para essa exposição, a artista irá expor também pinturas posteriores ao momento da pandemia, visando elucidar o espectador que o estudo da artista no aspecto da relação matéria continua presente. Sobretudo em relação ao aspecto do uso das cores, onde em alguns momentos remetem as dores sentidas no momento da feitura, principalmente se são causadas por problema de saúde. Em virtude disso, os usos das cores nas pinturas da artista em alguns momentos continuam sendo provenientes das dores, que acabam refletindo em seu trabalho por meio das cores.

Sobre sermos viajantes – texto curatorial por Tom Lisboa

“Ao chegar a uma nova cidade, o viajante reencontra um passado que não lembrava existir: a surpresa daquilo que você deixou de ser ou deixou de possuir revela-se nos lugares estranhos, não nos conhecidos”. Daniela Marton poderia ser esse viajante citado no livro As Cidades Invisíveis, de Italo Calvino. Vinda da arquitetura, ela encontra no território estrangeiro da pintura, talvez, a melhor maneira de “edificar” suas obras. Sua singularidade, contudo, não advém da frieza do cálculo, mas do gesto espontâneo que apaga qualquer rastro de uma fórmula racionalista.

Ao mesmo tempo, a maneira como ela dispõe as camadas de tinta e estabelece entre elas relações cromáticas e táteis, percebemos uma aproximação com o fenomenológico. Somos assim expostos a uma pintura que cria um campo de experiência oriundo desta descontinuidade dos contornos e de uma gama de cores que se desfazem. Mesmo quando usa o AutoCAD (um software utilizado para elaborar peças de desenho técnico) para criar os estênceis que são aplicados sobre as telas, sua finalidade é transfigurada. O que surge são construções desgastadas e instáveis que problematizam, contradizem e expandem conceitos advindos de sua antiga formação acadêmica.

Diferentes cargas emocionais permeiam sua produção. Desde a dor que se converte em cor até as escolhas das imagens que remetem ao universo da arquitetura que coleta da internet e reproduz em cada estêncil. A opção pela coluna jônica, na obra “Rupturas”, por exemplo, é por considerá-la um dos elementos mais elegantes e simples da arquitetura, por remeter as edificações antigas de Roma e Veneza, mas, principalmente, por lembrá-la de uma viagem para visitar sua família na Itália. Nesta tela, a solidez da coluna se desfigura num mar de matéria, cor e gestualidade, criando uma nova arqueologia para esta referência clássica.

Por fim, faz-se necessário pontuarmos a importância da dor, tanto física quanto psicológica, em suas escolhas cromáticas e também de escala, já que em momentos de profundo sofrimento ela chegou a optar por telas de menor dimensão. Giulio Carlo Argan observou, a respeito da obra de Van Gogh, uma característica que encontro nas obras de Daniela: “a matéria pictórica adquire uma existência autônoma, exasperada, quase insuportável; o quadro não representa: é”. Ao percorrermos o conjunto de seus trabalhos embarcamos em um mundo de símbolos e mensagens que nos instigam e desafiam. Passamos a ser viajantes em processo de autodescoberta.

Sobre a artista

Daniela Marton atualmente vive e trabalha em Curitiba. Artista graduada em Arquitetura e Urbanismo pelo Mackenzie (2011), possui licenciatura em Artes Visuais pela Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR - 2021) e é mestre em Poéticas Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS - 2023). Realizou uma série de cursos livres de pintura e desenho na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (RJ) e no Museu Casa Alfredo Andersen (PR). Artista visual, suas obras possuem ênfase em pintura e escultura. Participa de exposições coletivas em salões, museus, pinacotecas e Bienais no Brasil e no exterior desde 2017, como a Bienal de Salerno na Itália (2018), onde foi premiada, Bienal The Wrong nos EUA (2019 e 2021) e da Bienal Oswaldo Goeldi em Taubaté (SP - 2020). Participou dos salões de artes visuais de Pinhais (2023 e 2024), Vinhedo (2017), Navegantes (2019) e Universidade do Vale do Paraíba (Univap - 2024). Principais exposições individuais na Pinacoteca de Viçosa (2021 e 2024), Museu de Arte Moderna de Resende (2022), Museu Casa Alfredo Andersen (2023), Pinacoteca Taubaté (2023), Centro Cultural UFMG (2024), entre outras.

Serviço:

Exposição individual Matéria e Memória – Daniela Marton

Abertura: 6 de dezembro de 2024 | às 19h

Visitação: até o dia 02/02/2025

Terças a sextas: das 9h às 20h

Sábados, domingos e feriados: das 9h às 17h

Sala Celso Renato de Lima do Centro Cultural UFMG (Av. Santos Dumont, 174 - Centro, Belo Horizonte / MG)

Classificação indicativa: livre

Entrada gratuita

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Assessoria de Imprensa UFMG

Fonte

Assessoria do Centro Cultural UFMG

3134098290

http://www.ufmg.br/centrocultural