Documentário sobre a Casa da Glória, patrimônio da UFMG, será exibido em Diamantina
Produção da TV UFMG apoiada pela Embaixada dos EUA, ‘Passos de uma casa’ tem sessão agendada para o dia 4 de abril, no Teatro Santa Isabel
O documentário Passos de uma casa, produzido pela TV UFMG sobre a Casa da Glória, um dos mais icônicos patrimônios de Diamantina, será exibido na cidade histórica do Vale do Jequitinhonha na próxima sexta-feira, dia 4 de abril. A sessão, agendada para o Teatro Santa Izabel, a partir das 18h, reunirá a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, autoridades municipais, representantes da embaixada dos Estados Unidos no Brasil e a comunidade de Diamantina, que mantém laços afetivos com a Casa da Glória, justamente o foco do documentário.
“A ideia era contar histórias de pessoas comuns, que sempre olharam para a casa, mas que nunca entraram ou que tiveram algum contato especial. Queríamos fugir da história oficial, com grandes herois e reviravoltas”, explica a jornalista Olívia Resende, diretora do documentário.
A produção do documentário se insere em um projeto mais amplo, a revitalização da Casa da Glória. Por ter a maior parte de sua estrutura em madeira, o imóvel estava infestado de cupins. Em 2022, foi selecionada em um edital de preservação cultural aberto pela Embaixada dos Estados Unidos. Desde então, os recursos têm sido aplicados em reformas e dedetização. Em fevereiro de 2024, a TV UFMG chegou a Diamantina, a pedido da Embaixada, que contratou a organização Story Center para auxiliar na produção de um documentário com foco na divulgação para o público internacional.
Com pouco tempo de gravação e a casa em reforma, a equipe teve de ser criativa. “A Casa da Glória não estava como ela é quando está aberta para visitação. As paredes estavam todas vazias, com buracos de martelo. Tudo estava guardado. A gente pediu licença para colocar as fotos guardadas e outros elementos nos lugares que escolhemos”, conta Olívia.
Experimentação
Algumas imagens são do arquivo da TV UFMG, de quando a Casa da Glória funcionava normalmente. Ela está fechada para reformas desde 2020. Essa condição não foi impedimento para a gravação e abriu espaço para a experimentação. Olívia Resende comenta que havia muita coisa guardada. “Nós pedimos autorização para mexer nesses objetos que fazem parte da casa, como um piano antigo, máquina de escrever, vidros. Também exploramos o som de areia usado em laboratórios de laminação", relata.
O professor Jalver Machado Bethônico, da Escola de Belas Artes (EBA) da UFMG, auxiliou na captação dos sons. “É como se a voz da casa estivesse permeando todas as vozes que formam o documentário. Íamos para a casa de madrugada para capturar sons. Capturamos o som do passadiço de dentro e fora dele”, explica Olívia. “Qual seria a voz da casa? E qual a perspectiva dela? Ela conta muitas histórias, tem materialidades e acústicas diferentes", relata.
O local sedia, desde 1979, o Instituto de Geologia Eschwege, administrado pela UFMG, o qual oferece ensino e treinamento em geologia de campo que atraem estudantes de todo o país. A maioria dos entrevistados para o documentário tem relação com o Instituto, como Maria Giovana Parisi, ex-aluna e professora do Instituto de Geociências da UFMG, e Augusto Ribeiro e Gilson Batista, funcionários da Casa da Glória.
“A Casa da Glória é um patrimônio da comunidade, porque ela abriga a sua história. É por isso que as pessoas precisam frequentar o espaço", diz Olívia. Ela enfatiza a importância de promover um olhar sobre a casa integrada ao cotidiano comum, “seja de uma pessoa que trabalhou lá ou de alguém que apenas teve a oportunidade de visitá-la", como é o caso de Marcelo Brant, artista visual entrevistado, que tem a casa como inspiração para a sua arte.
Restauração da memória e das vivências
Com duração de 18 minutos, o filme teve, no dia 10 de março, na Sala de Sessões da Reitoria, uma exibição restrita à comunidade da UFMG e a convidados da Embaixada dos EUA. A reitora Sandra Goulart Almeida, o vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira, a diretora do Cedecom UFMG, Fábia Pereira Lima, e a cônsul dos Estados Unidos em Belo Horizonte, Kristie Di Lascio, participaram da sessão.
Após a exibição do documentário na sala de sessões, Fábia Lima disse que a produção representava um “ato de amor e resistência”, ao dar voz a “indivíduos que tendem a ficar à margem dos grandes registros históricos”.
A cônsul Kristie Di Lascio lembrou que a restauração da Casa da Glória foi o único projeto brasileiro financiado com edital aberto pela embaixada norte-americana em 2022. Foram aportados 235 mil dólares. “Em breve, esperamos que as portas desse patrimônio estejam abertas a pesquisadores, visitantes e turistas”, disse ela, que também elogiou o documentário. “Ele retratou, de forma brilhante, essa casa centenária.
A reitora Sandra Goulart afirmou que a restauração da Casa da Glória e o documentário são dois movimentos convergentes. “De certa forma, eles restauram a memória e as vivências das pessoas”, disse a dirigente, citando a escritora Adélia Prado. “O que a memória ama fica eterno”.
“Estamos trabalhando com muito cuidado para preservar essa estrutura tão delicada. A UFMG tem uma relação umbilical com Diamantina. Lá, realizamos várias edições do Festival de Inverno, é uma das cidades em que habitamos e terra do ex-presidente Juscelino Kubitschek, ex-aluno da Faculdade de Medicina. O passadiço da Casa da Glória é uma imagem-símbolo da cidade, reconhecida internacionalmente. E a casa também sediou várias edições do Seminário de Economia Mineira, um evento muito tradicional promovido pela Faculdade de Ciências Econômicas”, concluiu a reitora.